Monday, September 5, 2005

Turismo

Uma coisa que me intriga (mais uma) é que raio de motivação terão os pais (pais em geral, por esse mundo fora), para se transfigurarem totalmente quando saem do país, assumindo de corpo e alma a sua nova condição de turistas (com tudo o que de terrível isso implica)! Mal abandonam o país os sintomas começam a fazer-se sentir, com mais e mais força a cada minuto que passa (muitas vezes agravados pela diferença de fusos horários) - primeiro uns ténis da Reebok, num branco imaculado que prova que estiveram no armário nos últimos 3 anos, depois uns calções ao melhor género "Discovery Channel", até que vemos surgir uma mala nunca antes usada, porque segundo a nossa mãe "é muito prática, cabe tudo lá dentro, até aquele saquinho térmico muito útil para a garrafa de água", e se nós porventura duvidarmos da frescura da água, corremos o risco de desidratar até ao final da viagem, e de não ter direito a tomar o pequeno almoço... O que me leva a outra transformação visível das criaturas-pais - se em casa o pequeno almoço não passa de um café e uma bolacha mole, já nos hotéis vemo-los comer como se não houvesse amanhã, e ficarem intrigados pelo simples facto de nós (depois de duas torradas, cereais com leite, uma maçã e um croissant com queijo) não querermos aqueles ovos mexidos com tão bom aspecto ou mesmo, quem sabe, costeletas de porco com esparguete!!! Daqui às fotografias em mil poses diferentes, sempre com os mesmos intervenientes, é um salto! Já para não falar na histeria colectiva quando se vê qualquer coisa que possa fazer referência (vagamente!) ao pequeno país que é Portugal! (nem que estejamos na Noruega e vejamos bacalhau no supermecado, qualquer razão é boa para um pouco de patriotismo). Não queria entrar por aí, mas é inevitável... os souvenirs!! Essas coisas tão úteis, baratas e interessantes que os pais adoram comprar para toda a família, amigos e conhecidos, como se o facto de passarem férias no Norte seja suficiente para as pessoas merecerem ganhar um horrível Galo de Barcelos!...
A única consolação quando estamos perante este síndroma (para além do primeiro alívio de naquela região ninguém nos conhecer nem reparar que até temos parecenças óbvias com aquele senhor de boné e aquela senhora de panamá), é sabermos que ele termina assim que voltamos à nossa terra natal, e que os nossos pais são até capazes de voltar imediatamente ao tom autoritário de quem tem uma vida séria, como que negando o seu passado mais recente!

1 comment:

Anonymous said...

É claro que a explicação é simples. Em Roma sê romano, em viagem sê "viajano"