Sunday, April 22, 2007

O Rio Corre

E de súbito, enquanto olho para o livro (fechado) e penso que (mais tarde ou mais cedo) terei de o abrir... sinto-me mais identificada do que nunca com Fernando Pessoa.

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Mas o melhor é deixar de partilhar este prazer com Pessoa, senão corro o risco de os meus pais me questionarem...

Quando é que o cativeiro
Acabará em mim,
E, próprio dianteiro,
Avançarei enfim?
Quando é que me desato
Dos laços que me dei?
Quando serei um facto?
Quando é que me serei?

... e quererem saber quando é que acabo o curso, quando acabam os exames e as propinas que eles me pagam. E aí eu digo-lhes...

I am the escaped one,
After I was born
They locked me up inside me
But I left.

Para lhes mostrar que, mesmo que o exame de inglês não corra bem, o Fernando Pessoa também não precisava de saber muito de phrasal verbs ou reflexive pronouns para escrever uns poemazitos.

E com isto já passaram mais alguns minutos de livro fechado.
"Ai que prazer!"


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